Três semanas antes, dia 20.08.2012, 00h00min. Áustria, Graz.
Comecei a gritar enquanto todos em volta nos olhavam – Você
não sabe como eu me sentir, você não tem noção Derick. E todo mundo
dizia para eu esquecer, para sair dessa, para tirar da cabeça. E você me mandou
embora e eu quisesse ficar, eu queria ficar, meu Deus, como eu queria ficar!
Ninguém entendia, nem eu me entendia, mas eu queria ir até o fim, queria ir até
onde eu tinha forças, até onde existisse uma fagulha de sentimento. Eu pensava:
enquanto existir sentimento vai existir coragem. E eu tinha coragem de sobra.
Eu queria ficar. Eu queria você. Eu te queria desesperadamente. Eu precisava de
você. Eu fui idiota de mais, uma burra...
– Todos olhavam aquilo, ele me olhava assustado, mas ele não sabia que
aquilo era só metade da minha dor. Olhei ofegante para ele e sai correndo. As
lagrimas começaram a descer, não vi exatamente o quanto corri, mas quando
cheguei perto da praia, minhas pernas tremiam e meus pulmões doíam. E estava tão
ofegante por causa da corrida e do choro, que mais parecia que havia corrido
uma maratona. Gotas de suor corriam por minha testa e eu comecei a me sentir
tonta com tudo aquilo, eu não sabia ao certo o que fazer, fui caminhando para
perto do mar, então me sentei na areia e tentei me acalmar. Respirei fundo e
abracei minhas pernas, fiquei olhando o mar por um tempo, apóie meu queixo em
meus joelhos e fechei os olhos tentando esquecer tudo aquilo, tudo estava dando
errado. Pessoas perguntavam se eu estava bem, e sempre eu sorria e dizia
“Claro, esta tudo bem”. Mas elas não se importam, podem até ter visto um
sorriso no meu rosto, mas elas não vêem as lagrimas que saiam dele. Aqui dentro
estava tudo machucado. Eu não agüento mais fingir que está tudo bem, eu estava
sozinha naquele momento. Cerrei meus labios, estava com aquela maldita dor de
cabeça novamente, meus olhos pegavam fogo, lagrimas queimando. Eu estava, tão,
tão... Furiosa, com aquilo tudo...
Já haviam se passado três semanas desde que sai de casa,
três semanas enfiada em um quarto de hotel sem sair, a não ser pra comer.
- Pisquei algumas vezes olhando para o teto branco do
quarto, logo me sentei na cama abraçando minhas pernas e olhando para a janela à
frente. O quarto era espaçoso, as paredes eram revestidas em um tom de marrom,
com alguns quadros coloridos. Uma
televisão estava posicionada acima de uma cômoda bege ao lado direito do quarto,
ao lado estava à porta de saída, e logo à frente uma pequena mesa com duas
cadeiras, e ao lado da mesa havia uma escrivaninha com alguns papeis, um abajur,
espelho, depois um sofá de dois lugares branco, com duas almofadas posicionadas em
cada canto do mesmo, a cama de casal era revestida por coxas brancas
e lençóis marrons do mesmo tom da parede, quatro travesseiros, e um criado mudo
com um telefone, e a lista telefônica, a esquerda ficava a porta do banheiro. Após um tempo decidi me levantar, estava exausta,
mal dormia, esses dias haviam sido tão confusos e doloridos. Fui até o
banheiro, estava vestindo apenas um pijama e com o cabelo todo bagunçado. Direcionei-me a pia, abria a torneira
deixando a água sair, logo lavei meu rosto, respirei fundo olhando para o
espelho, então arrumei meus cabelos. Olhei para o lado e vi uma lamina de
barbear, peguei a mesma. Não
tinha certeza do que estava acontecendo, mas a vontade de me cortar só
aumentava, a cada segundo que eu passava olhando aquele pedaço de metal afiado
e frio. Cada momento que eu respirava a vontade era maior, e ela não sabia se
era por causa da bebida que havia tomado há minutos antes ou somente pela
dor. Então a mesma olhou bem o seu
reflexo no espelho, ela não se reconhecia, não sabia o que tinha feito, talvez
ela houvesse dito algo errado. Mas ela só precisava respirar um pouco, aquilo
tudo a incomodava, todas as horas pensando no que havia feito, já havia dado um
nó em sua cabeça, ela não agüentava mais tudo aquilo, não era normal... - Será
que eu precisava ou podia melhorar do que eu era? Eu melhoraria de hoje em
diante, não faria mais o mesmo, seria forte, e mais ninguém iria ver nenhuma
lagrima minha, nem mesmo ele! Eram tantas as perguntas minha cabeça doía essa
dor não passava e eu não conseguia mais agüentar aquilo eu precisava escapar,
eu precisava de um alivio... –Então a jovem olhou para lamina e depois para meu
pulso, podia ver-se as veias azuladas pela pele pálida que ela tinha. Então ela
desceu a lamina até seu pulso e fui a pressionando conta a pele, à medida que a
lamina era pressionada ela não sentia nada só via as gotas de sangue cair no
verniz branco da pia, o sangue escorria por suas mãos, ela pressionou mais
fundo que podia a lamina, e assim fez o mesmo com o outro pulso. Ela não sentia nenhuma dor, somente alivio, um
alivio de tudo aquilo, agora ela só tentaria ser forte, tentaria ser melhor e
concertar seus erros. À medida que o sangue saia, sua boca começava a ficar
seca a visão turva e logo em seguida a escuridão e o chão gelado do banheiro a
tomaram por inteira... - Annabelle O'Callahan.
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